Por : Douglas Aleodin
Nos dias 05 e 06 de Maio de 2017, foi inaugurada a sede do Discovery-Mackenzie, um núcleo de pesquisa interdisciplinar da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Como já aconteceu no passado com eventos que discutem a Teoria do Design Inteligente, era esperado que um evento da envergadura e importância do Discovery-Mackenzie também tivesse destaque no meio midiático. E teve.
O site do jornal Folha de São Paulo, através da colaboração do seu colunista Reinaldo José Lopes, publicou uma notícia no dia 10/05/2017 com com o seguinte título : “Universidade Mackenzie de SP abre centro que questiona a evolução” (veja aqui). Este título pode apresentar para o público leigo uma má caracterização da TDI, visto que a palavra “evolução” assume vários significados.
A Teoria do Design Inteligente, ao contrário do que o jornalista Reinaldo José Lopes parece querer indicar com o título (por pura desinformação ou ignorância do assunto), não é incompatível com muitas das definições da palavra “evolução”.
A palavra “evolução” no sentido de “microevolução” ou “ancestralidade comum universal”, não é incompatível com a TDI.
No curso DI101 sobre a TDI promovido pelo Mackenzie, que teve como objetivo expor de forma correta e precisa os principais postulados da Teoria do Design Inteligente, este que vos escreve dedicou uma boa parte da sua apresentação para esclarecer essa questão.
Além disso, o jornalista Reinaldo José Lopes não fornece de forma correta e precisa a definição da Teoria do Design Inteligente. Ele diz no texto da Folha de São Paulo :
“Os defensores do DI, cujas ideias são rejeitadas pela maioria da comunidade científica, argumentam que os seres vivos são tão complexos que ao menos parte de suas estruturas só poderia ter sido projetada deliberadamente por algum tipo de inteligência”
Essa definição mau representa a TDI, visto que a TDI não alega que a complexidade é o único e principal fator para se inferir design. Processos não-direcionados ou causas puramente materiais, formam coisas bastantes complexas. Mas não são capazes de gerar complexidade especificada, tal qual vemos em códigos de software, livros[…] e em certas características da vida e do Universo. É o que afirmamos. Portanto, caso o jornalista Reinaldo José Lopes queira apresentar uma definição que exponha a TDI de modo correto, tal qual ela é defendida pelos seus proponentes; que ele apresente a seguinte declaração :
“A Teoria do Design Inteligente alega que certas características do mundo natural, isto é, do Universo e da vida, são melhor explicadas por uma causalidade inteligente, ao invés de um processo não-direcionado, como a seleção natural atuando em mutações aleatórias”.
Na minha palestra no curso DI101 eu abordo essa questão, e pauto toda minha apresentação da TDI a partir dessa definição precisa.
No decorrer do texto da Folha de São Paulo, o jornalista Reinaldo José Lopes também comete erros históricos, ao dizer que o Discovery Institute (o principal centro de estudos e pesquisas sobre DI), sofreu “derrotas judiciais” por “defender que a ideia fosse ensinada em escolas públicas em paralelo com a teoria da evolução”.
Apesar de não explicitar, Reinaldo José Lopes refere-se ao Caso Dover : o primeiro julgamento para abordar a constitucionalidade do ensino do Design Inteligente em escolas públicas nos EUA. Porém, ele fornece uma informação falsa ao dizer que o Discovery Institute sofreu uma “derrota judicial”, visto que o Discovery Institute sequer foi autor ou réu do processo. Reinaldo José Lopes ainda diz que “tribunais dos EUA consideraram que o DI seria, na essência, muito semelhante ao criacionismo bíblico”.
Bem, a decisão do juíz (John Jones III) do Caso Dover se baseou em raciocínio defeituoso, evidência inexistente e uma falsa representação da teoria científica do Design inteligente. Muitos juristas americanos tem classificado essa decisão judicial como embaraçosa, de argumentação pobre e não persuasiva. Para saber mais sobre o Caso Dover e como ele dificilmente é a palavra final acerca da controvérsia do Design Inteligente, veja esta lista de artigos levantados pelo Discovery Institute : clique aqui
Outra confusão feita no texto do colunista Reinaldo José Lopes, é quando ele não consegue distinguir a Teoria do Design Inteligente das linhas de raciocínio defendidas pelos seu proponentes. Por exemplo, como já citado acima, a Ancestralidade Comum Universal é compatível com a TDI. Porém, muitos defensores da TDI -como este que vos escreve- vê mais evidências contrárias do que favoráveis à Ancestralidade Comum Universal. Reinaldo José Lopes, no entanto, diz que a TDI afirma que “a ideia que existe uma árvore genealófica das espécies vivas hoje é enganosa”. Essa é mais uma informação equivocada do Reinaldo José Lopes. A TDI não diz isso. Um exemplo claro do equívoco dessa informação é o posicionamento de um dos principais proponentes da TDI, o Michael Behe, que pensa afirmativamente acerca da Ancestralidade Comum Universal.
A TDI é uma teoria de detecção de design, sua proposta é investigar o know-how , os limites dos processos materiais, e a causalidade inteligente. A TDI preocupa-se com o “como”, o know-how.
Na parte final do seu artigo de opinião (não posso classificar o texto com tantos erros de outra maneira), Reinaldo José Lopes coloca em negrito a palavra “preocupante”, e a seguir cita alguns pesquisadores. Vamos analisar a opinião de cada um deles.
O paleontólogo Mario Alberto Cozzuol, da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que : “É triste e extremamente preocupante. As premissas do DI foram derrubadas e expostas já faz muito tempo. Seus proponentes não têm aportado nenhuma novidade para a discussão. O único motivo pelo qual isso continua atraindo gente é a falta de educação em ciências”.
Que grande desconsideração e arrogância com seus colegas cientistas defensores da TDI! Cozzuol está dizendo que membros de academias nacionais, professores eméritos das melhores universidades do mundo -inclusive em sua área, a paleontologia- que defendem a TDI, não foram educados em ciências. Ele ainda diz que “as propostas do DI foram derrubadas faz tempo”. Por outro lado, não é isso o que mostra a História e a Ciência. A TDI é uma teoria jovem, construída na década de 90, e sendo corroborada cada vez mais pela Biologia Molecular.
Por fim, a geneticista da UFRGS, Maria Cátira Bortolini, diz :
“Considero que se trata de uma tremenda desonestidade intelectual. As evidências fatos, provas, pouco importam, o que importa é a narrativa”.
Ao ler isso, eu tive a impressão de que ela estava falando do Neo-Darwinismo e as narrativas darwinistas da História Natural. Ou talvez ela não saiba que o Darwinismo é Ciência Histórica, como bem observado por Ernst Mayr. Porém, Maria Cátira se referia contra o Design Inteligente, o que é impressionante para uma geneticista, pois é principalmente na Genética que o DI encontra amplo respaldo; em especial na questão da Origem da Informação Genética.
Para saber mais sobre a Origem da Informação Genética e porque ela é uma forte evidência de design, recomendo que você assista dois vídeos :
O Enigma da Informação : clique aqui
Qual é a Origem da Informação Digital ? clique aqui
Para entender o aspecto das cosmovisões e narrativas na discussão do design, veja o texto “A Magnitude das Cosmovisões – Domínio Ideológico” do Portal TDI Brasil + : clique aqui
Apesar de tantos erros, descaracterizações e equívocos no texto de Reinaldo José Lopes, podemos tirar uma lição dele. A Teoria do Design Inteligente, ao contrário do que querem seus críticos, está ganhando cada vez mais espaço para discussão dentro da Academia e também na mídia.
A inauguração do núcleo de pesquisa Discovery-Mackenzie é um dos primeiros passos para a realização do exercício da liberdade intelectual e acadêmica para se discutir questões fundamentais da existência e conhecimento humano, que estão longe de terem sido resolvidas há 150 anos desde Darwin.